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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

América Latina tem ano de 'perdedores' e 'vencedores' na economia


Após um período de crescimento acelerado, a América Latina fechará o ano dividida. Em média, as economias da região devem crescer 3,2% em 2012 segundo o FMI, menos que os 4,5% de 2011, mas uma expansão ainda "sólida" na visão do fundo. Tal média, porém, oculta situações bastante díspares, como uma recessão no Paraguai (de -1,5%) e um crescimento "chinês" no Panamá (de 8,5%).
"Ela esconde o fato de que esse foi um ano em que há duas histórias para serem contadas sobre a América Latina: uma, dos países que cresceram acima ou em linha com seu potencial, outra dos que cresceram abaixo", acredita Luis Oganes, especialista em América Latina do banco JP Morgan.
No primeiro grupo estão as economias que continuaram crescendo rapidamente (ainda que tenham desacelerado um pouco) como Peru, Chile, Colômbia, México e Bolívia - além do Panamá.
No outro, principalmente os países do Mercosul - além do Paraguai, o Brasil, a Argentina e o Uruguai - em que a freada foi mais drástica. "O Brasil, acabou puxando a média regional para baixo por representar 45% do PIB nominal da região”, diz Oganes.
Para o FMI, foi um ano de "perspectivas e desafios diferentes" em cada um dos países da região.
Mas o que explica essa diferença?
A BBC Brasil entrevistou analistas e economistas para entender o que impulsionou as economias-estrela da região em 2012 e o que levou o Cone Sul – em especial o Brasil – a ficar para trás dos vizinhos.
Para Ignacio Munyo, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social, no Uruguai, parte da explicação está ligada ao "pânico" que tomou os mercados globais no segundo semestre de 2011, com o agravamento da crise europeia.
Em um estudo para a Brookings Institution, Munyo e alguns colegas defendem que três aspectos definiram a capacidade dos países ganharem ou perderem em termos econômicos no cenário criado pela crise.
Primeiro, exportadores de commodities acabaram se saindo melhor por causa da valorização desses produtos. Segundo, aqueles que dependiam menos de "economias avançadas" (EUA e Europa) - seja em termos comerciais, seja por não serem destino de remessas de imigrantes - também teriam prosperado mais.
Finalmente, países mais inseridos nos fluxos financeiros globais teriam recebido mais investimentos quando oportunidades de negócios nas economias tradicionais minguaram.
"Com o pânico que tomou conta dos mercados a partir de meados de 2011, porém, os investidores fugiram até dos emergentes, procurando ativos seguros como títulos dos EUA e ouro. Isso mudou um pouco as regras do jogo e fez com que políticas específicas adotadas em cada país para estimular os investimentos passassem a fazer uma grande diferença", defende.
A pressão teria sido particularmente intensa em países que estavam crescendo muito, como o Brasil e a Argentina. "Na Argentina, uma crise de confiança doméstica ganhou força, exacerbada pelas medidas heterodoxas adotadas pelo governo", diz Munyo, referindo-se ao polêmico sistema de controle de câmbio aprovado por Buenos Aires.
No Brasil, esse "pânico" dos mercados teria criado dificuldades adicionais em um momento em que o país via esgotar sua capacidade instalada e precisava lidar com problemas ligados a gargalos de infraestrutura.
Oganes acrescenta que justo nesse momento o Brasil também estava implementando medidas recessivas para conter a inflação. O resultado foi uma freada brusca, que teria tido impacto em países do Mercosul.
A alta das commodities continuaria explicando parcialmente muitos dos "sucessos" da região, segundo os analistas.
O Peru, por exemplo, deve crescer 6% este ano (FMI), beneficiando-se dos preços historicamente altos dos minérios, embora sua expansão também seja atribuída a fatores como o fortalecimento de seu mercado interno e seus alto níveis de investimentos privados.
A recuperação do petróleo venezuelano teria ajudado a Venezuela a crescer 5,7% este ano ao aliviar os cofres do governo local. "Foi um crescimento impulsionado pelos gastos públicos em um ano de eleição", diz Neil Shearing, da consultoria Capital Economics.
É claro que há muita divergência nas análises sobre as causas dos sucessos e fracassos latino-americanos.
Sem ignorar os fatores externos, o economista chileno Andrés Solimano, presidente do Centro Internacional para Globalização e Desenvolvimento, por exemplo, enfatiza a importância das políticas adotadas em cada país para estimular investimentos, ampliar mercados consumidores e dar competitividade à indústria local (criação de infraestrutura, melhorias no sistema tributário, etc).
Em um estudo divulgado neste mês, o Banco Mundial aponta um crescimento de 50% na classe média da região e atribui o avanço - que resulta em mercados internos mais sólidos - também a políticas de redução da pobreza.
Para Solimano, porém, mesmo os países que continuam a crescer aceleradamente estão longe de ter feito todas as reformas que lhes garantiriam estabilidade no longo prazo: "Os índices de expansão do PIB podem ser diferentes, mas ainda há desafios comuns. Faltam mais investimentos em educação, medidas para reduzir a desigualdade de renda e para ampliar a sofisticação das estruturas produtivas da região."
Abaixo, entenda caso a caso, por que, na visão dos analistas, alguns países continuam crescendo rapidamente, enquanto outros pisaram no freio:
Panamá
Em 2012 o Panamá deve crescer 8,5% (FMI), depois de ter crescido 10,6% em 2011 e 7,6% em 2010. Além disso, desde 2006, a pobreza no país caiu de 38% para 26%.
Segundo Oganes, esse crescimento é impulsionado por um boom no setor de construção e o efeito multiplicativo dos investimentos massivos feitos na expansão do movimentado canal que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico.
O país assumiu a responsabilidade pelo canal (que antes era dos EUA) em 2000 e passou a reinvestir os recursos obtidos com sua administração internamente. Só a expansão do canal está custando US$ 5,2 bilhões.
Além disso, o governo está investindo em outras obras de infraestrutura - como linhas de metrô ou serviços de comunicação e energia.
Para completar, por ser um paraíso fiscal e ter uma economia dolarizada o Panamá tem atraído um grande fluxo de recursos, consolidando-se como um importante centro financeiro da região.
Peru
A previsão do FMI é que o Peru cresça 6% este ano, liderando o ranking das maiores expansões sul-americanas. Desde 2005, o país só não cresceu mais de 6% em 2009.
Entre os fatores que têm favorecido a economia peruana estão os preços historicamente altos dos minérios, que representam 63% do total exportado pelo país.
Também ajuda o fato que, dentro dessa categoria, a pauta de produção peruana é variada, incluindo ouro, cobre, zinco e prata. Frequentemente, uma alta do ouro compensa uma baixa do cobre, como explica Oganes.
O país tem níveis de investimentos altos se comparados com os vizinhos. Lá a taxa é de 25% do PIB, contra 18% do Brasil, por exemplo. E no Peru, 80% dos investimentos são privados.
Vários acordos de livre comércio assinados nos últimos anos também ajudariam a atrair investimentos de fora.
Para completar, um crescimento vigoroso da classe média peruana teria impulsionado seu mercado interno. Há planos para dobrar o numero de shopping centers no país em dois anos, por exemplo.
O México teria crescido 3,8% neste ano segundo o FMI. Seu crescimento seria mais baixo que o da maior parte dos países andinos, mas como o país tem uma economia maior e mais diversificada, acabou substituindo o Brasil como a menina dos olhos dos investidores estrangeiros.
A taxa de câmbio é uma das mais atrativas para os investidores e o mercado interno tem crescido de forma vigorosa, segundo analistas.
Além disso, o país não só está se beneficiando da recuperação da economia americana para manter o nível de suas exportações, mas também tem conseguido ampliar sua fatia de mercado nos EUA.
Para Oganes, em parte isso ocorre em função dos aumentos dos salários na China, que têm reduzido o diferencial entre a mão de obra chinesa e a mexicana.
O resultado é que não só as exportações mexicanas se tornaram mais atrativas, mas o México passou a atrair investimentos para o setor manufaturado que iriam para a China.
Paraguai
Com uma retração de 1,5% no PIB, o Paraguai teria o pior desempenho em 2012 entre os latino-americanos segundo o FMI.
Para se ter uma ideia do tombo que esse índice representará se confirmado, basta lembrar que em 2010 o Paraguai foi o país que mais cresceu na região, tendo uma expansão de mais de 15%.
A retração ocorre em um momento em que o Paraguai está politicamente isolado do Mercosul e da Unasul, mas é atribuída a duas outras causas por analistas.
Primeiro, a seca do fim de 2011 e início de 2012, que fez a produção e exportação de soja do país cair pela metade.
Segundo, a suspensão das exportações de carne paraguaias para vários países, após a detecção de febre aftosa no gado local.
Tentando reverter a recessão, o Banco Central paraguaio já anunciou uma expansão dos gastos em infraestrutura. Ele também prevê uma “supersafra” de soja para 2013.
O FMI espera que o Paraguai se expanda 11% neste ano.
Brasil
Já em 2011 o Brasil deu sinais de que poderia deixar de ser a estrela dos investidores ao passar de um crescimento de 7,5% para 2,5%. Em 2012, voltaria a decepcionar, segundo o FMI, com estimados 1,5%.
Munyo ressalta que a indústria brasileira parece ter chegado ao limite de sua capacidade instalada e há um importante déficit de infraestrutura a ser suprido.
Os baixos índices de investimento na indústria são apontados como uma das causas da desaceleração.
"O problema foi que o consumo interno continuou a crescer mas a produção foi freada", opina Neil Shearing.
"Até recentemente, a política de juros altos parece ter sido um grande freio para investimentos e a economia nos últimos anos", diz Solimano.
Para 2014, tanto o FMI quanto o JP Morgan esperam uma recuperação do país, com um crescimento de 4% (que faria o Brasil ultrapassar o México).
Os pacotes de estímulos, as obras da Copa e Olimpíadas e a queda dos juros contribuíriam para a retomada.
Argentina
A Argentina havia crescido 8,9% no ano passado, mas este ano ficaria com uma média de 2,6% segundo o FMI.
De acordo com Shearing, entre os motivos da desaceleração estariam as estritas medidas de controle de capitais e câmbio adotadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner.
Agora, toda aquisição de divisas feita no país precisa da aprovação do Fisco – o que dificulta as importações e até as viagens internacionais dos argentinos.
"Ao contrário do que ocorre com o Brasil, na Argentina há sérias dúvidas sobre se haverá uma retomada do crescimento pela crise de confiança interna que se produziu como consequência das medidas adotadas pelo governo”, opina Munyo.

Fonte: BBC

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dilma visita Argentina em momento delicado na relação comercial bilateral


Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, em foto de arquivo (AFP)
A presidente Dilma Rousseff desembarca em Buenos Aires nesta quarta-feira, em um momento de queda dos investimentos brasileiros na Argentina e de redução no comércio entre os dois países, segundo dados oficiais e de consultorias privadas.
Dilma participará da conferência "Argentina e Brasil, integração e desenvolvimento ou o risco da primarização (das economias)", promovida pela União Industrial Argentina (UIA). A "primarização" tem sido citada com frequência nos debates empresariais e refere-se às exportações das commodities, como cobre, ferro e soja, para os países asiáticos, especialmente a China, sem valor agregado.
No terreno bilateral, empresários dos dois países apontam questões mais urgentes, como as barreiras comerciais que teriam afetado o resultado da balança comercial. Em 2011, este fluxo de comércio bilateral bateu recorde e chegou a US$ 39,6 bilhões, de acordo com o Ministério brasileiro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A expectativa é de que este total fique em US$ 34,5 bilhões neste ano (13% menor que no ano passado), afirmou o economista Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, de Buenos Aires. "A redução pode ser atribuída ao comércio controlado e ao menor crescimento das economias do Brasil e da Argentina", disse.
Em 2011, a Argentina importou o equivalente a US$ 22,7 bilhões do Brasil. Na mão inversa, a Argentina exportou US$ 16,9 bilhões para o mercado vizinho. O comércio registrou então um superávit de cerca de US$ 5,8 bilhões em favor do Brasil.
Neste ano o cenário mudou. As exportações brasileiras para o vizinho caíram 20%, entre janeiro e outubro, e as vendas da Argentina para o Brasil retrocederam 4,7%, neste mesmo período e na comparação com a mesma etapa do ano passado, segundo dados do MDIC e da Abeceb.
Os produtos industriais brasileiros foram os mais afetados e a lista inclui de automóveis, máquinas agrícolas a caminhões. No ano passado, porém, ocorreram casos específicos, como a compra de aviões da Embraer pela companhia estatal Aerolíneas Argentinas, que contribuiu para engordar as cifras do comércio bilateral, como observou Claveri.
Neste ano, por sua vez, a Argentina vendeu menos alimentos, como o trigo, para o Brasil, além também de automóveis e autopeças.
Números do Indec (equivalente ao IBGE na Argentina) e das consultorias Ecolatina e DNI, de Buenos Aires, indicam que o país registrou forte queda em seu comércio exterior, de forma geral. Em outubro, o superávit comercial argentino foi de US$ 585 milhões, cerca de 50% inferior ao US$ 1,1 bilhão do mesmo mês do ano passado.
"O Brasil foi o país mais atingido pelas medidas de controle de comércio, mas não o único", concordaram as consultorias DNI e Abeceb.
No fim de semana, o jornal La Nación, de Buenos Aires, publicou declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticando as barreiras comerciais argentinas. "Temos alguns problemas com alguns sócios comerciais, por exemplo, a Argentina. Eles travaram nosso comércio bilateral, um comércio importante, e isto está reduzindo principalmente a exportação do setor industrial”, disse, durante encontro da Confederação Nacional da Industria (CNI), em São Paulo.
Além disso, do lado do Brasil especula-se que poderia haver um "desvio de comércio", com a entrada de mais produtos asiáticos e menos brasileiros na Argentina. País de 40 milhões de habitantes, a Argentina, com amplo setor de consumidores e empresas que precisam dos produtos industriais brasileiros, costuma ser vista como destino natural das exportações e até de empresas brasileiras.
 partir da crise econômica argentina de 2001, o Brasil vem sendo apontado como o líder dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no país vizinho, atrás só dos Estados Unidos, Espanha e França, que participaram ativamente das privatizações no país na década de 1990. Estima-se, como publicou o jornal El Cronista, que 400 empresas brasileiras operem na Argentina atualmente.
No entanto, neste ano, a saída de investimentos diretos brasileiros para suas filiais no país vizinho caíram 61,2% entre janeiro e setembro na comparação com o mesmo período de 2011, aponta o Banco Central do Brasil.
De acordo com o levantamento, foram US$ 973 milhões no ano passado e US$ 378 milhões neste ano – quase a metade do que foi enviado pelas empresas brasileiras para o Chile, que registrou US$ 646 milhões.
Casa de câmbio em Buenos Aires; governo dificultou compra de dólares
Empresários atribuem a queda dos investimentos brasileiros no país vizinho ao "cenário de incertezas" econômicas da Argentina.
"Ampliei meus negócios entre 2005 e 2011. Foi uma etapa próspera para o empresariado local. Mas desde a aplicação da medida do governo de que temos que importar para depois exportar, tenho tido problemas", disse à BBC Brasil um empresário argentino que pediu anonimato. "Sou importador, e não exportador. O consumo interno continua alto, mas as mudanças de regras são desestimulantes para o investidor."
Claveri afirmou que o controle cambial também foi um dos responsáveis pelo freio nos investimentos, já que ficou mais difícil para a filial enviar dinheiro para a sede da empresa, no exterior. No entendimento da consultoria DNI, "questões internas como a inflação e maior pressão fiscal sobre as empresas" complicaram o cenário para os investidores.
As empresas brasileiras estão presentes em diferentes setores no país vizinho, como energia, mineração e calçados. No entanto, como afirmou um observador brasileiro, em alguns casos, como de calçados e de frigoríficos, existiam planos de produzir na Argentina para exportar para o Brasil ou outros mercados. Planos que também teriam sido afetados a partir de medidas oficiais.
O encontro da UIA, em um hotel na localidade de Los Cardales, na província de Buenos Aires, conta também com a presença dos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, além de empresários dos dois países e terá a presença da presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Dilma passará poucas horas na Argentina, em uma visita relâmpago que prevê seu retorno para o Brasil na tarde desta mesma quarta-feira.

Fonte: BBC

terça-feira, 27 de novembro de 2012

São Paulo é negligente no combate à onda de violência, diz Anistia

Policiais observam corpos em São Paulo (foto: Getty Images)
           “Autoridades de São Paulo estão falhando em garantir a segurança pública e punir abusos a direitos humanos cometidos por agentes do Estado” diz a Anistia Internacional.
A afirmação ocorre em meio a uma onda de violência que já resultou nas mortes de mais de 90 policiais desde o início do ano e levou o número de vítimas de assassinatos no Estado para 571 só em outubro.
A Anistia Internacional citou suspeitas de envolvimento de policiais em homicídios motivados por vingança e disse que tais casos não foram investigados adequadamente "durante muitos anos".
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que vem cumprindo as leis de forma rigorosa, prendendo e expulsando maus policiais em todos os casos de violações.
"O Estado não compactua com policiais criminosos", disse a pasta em nota.
"Condenamos a negligência do Estado em duas questões: garantir segurança pública ampla e respeitosa e assegurar justiça para as vítimas de violações cometidas por agentes do Estado", afirmou Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional, especialista em assuntos brasileiros.
A Anistia Internacional também condenou os ataques contra policiais, mas afirmou que é necessária a criação de um órgão federal independente, com poderes suficientes para investigar violações de direitos humanos no país.
Desde o início deste ano vem se intensificando em São Paulo um conflito entre policiais e a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo analistas e promotores ouvidos pela BBC, ações mais agressivas adotadas pela polícia para enfrentar o PCC provocaram uma forte retaliação do crime organizado, que deixou dezenas de policiais mortos - a maioria atacada no período de folga.
Em um ciclo ascendente de violência, grupos de atiradores não identificados deram início a uma onda de ataques a vítimas em bairros e cidades periféricos de São Paulo.
Imediatamente surgiram suspeitas de que tais esquadrões da morte eram formados por policiais e ex-policiais que decidiram agir por conta própria.
O ex-delegado geral de São Paulo chegou a afirmar na semana passada que registros criminais de parte das vítimas dos atentados foi checada em computadores da polícia momentos antes dos assassinatos. Horas depois, ele mudou sua declaração afirmado que tal prática foi um problema "no passado".
"A Anistia Internacional tem seguido a questão da violência em São Paulo por décadas". disse Cahill à BBC Brasil.
"Há muitos anos houve um alto número de mortes cometidas pela polícia que não estão sendo investigadas. Nós acreditamos que isso contribui não só para a corrupção da polícia mas para o próprio envolvimento da polícia em atos criminosos"
Em maio de 2006, o PCC praticamente parou a cidade de São Paulo com uma série de ataques contra forças de segurança pública. A violência na ocasião deixou quase 50 policiais e agentes penitenciários mortos e resultou nos assassinatos de aproximadamente 400 pessoas.
Cahill afirmou que tanto em 2006 como agora há fortes indícios de envolvimento de policiais nas mortes de civis, embora a Anistia não tenha "evidências concretas".
"Como em 2006, recentemente há uma grande suspeita de que o aumento notável de homicídios no Estado de São Paulo inclua um envolvimento forte de policiais", afirmou.
Ele afirmou ainda que é necessário conduzir um processo de investigação independente sobre os casos e criar no país o que chamou de "um instituto nacional de direitos humanos", que seja independente do Estado e tenha o poder de investigar as ações da polícia.
Cahill disse que um projeto de lei relacionado a esse assunto tramita no Congresso, mas ele não atenderia totalmente a padrões internacionais de independência.
Afirmou ainda que o país deve abolir a prática de registrar assassinatos cometidos por policiais sob a classificação de "resistência seguida de morte". Esse recurso, afirmou, serviria apenas para evitar investigações imediatas e ajudaria a acobertar ações de maus policiais.
A Secretaria da Segurança Pública afirmou que embora a Anistia Internacional seja uma organização respeitável, suas declarações à BBC estão "equivocadas".
A pasta afirmou que o novo Secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, determinou "reforço e atenção prioritária às investigações (dos assassinatos recentes), considerando-se todas as hipóteses nas apurações".
Ele anunciou uma integração maior entre os diversos setores da polícia e reforços nas forças de seguranças "para garantir a obtenção de resultados satisfatórios à população".

Fonte: BBC

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Como uma troca de e-mails ajudou a derrubar o diretor da CIA


Mensagens de e-mail estão no centro da polêmica envolvendo o ex-diretor da CIA, David Petraeus, e sua amante e biógrafa, Paula Broadwell.
Petraeus renunciou na sexta-feira passada ao comando da agência americana de inteligência por causa do escândalo envolvendo o relacionamento extraconjugal.
Durante o caso, ele e Broadwell trocaram mensagens e usaram regularmente o Gmail. Agora, essa correspondência é considerada chave para a investigação do FBI (que apura, entre outras coisas, se houve quebra de segurança nacional na troca de mensagens).
A correspondência ofereceu ao FBI pistas digitais, mas os investigadores inicialmente não tinham ideia da magnitude do que estavam prestes a descobrir. Na verdade, a investigação começou quando Jill Kelley, uma socialite da Flórida, disse a um amigo no FBI que havia recebido e-mails ameaçadores advertindo-a para que parasse de confraternizar com líderes sêniores das Forças Armadas americanas.
Como favor a Kelley, esse amigo começou a investigar os e-mails, pensando se tratar de um caso de assédio cibernético, segundo informou a rede americana NBC.
A apuração logo cresceu, já que os e-mails ameaçadores frequentemente citavam informações de encontros privados de generais ligados aos Comandos Central e do Sul das Forças Armadas, cujo comando fica em Tampa (Flórida).
A investigação quase emperrou porque as contas de e-mails das mensagens haviam sido registradas anonimamente. No entanto, era possível identificar o endereço de IP (Protocolo de Internet) dos computadores de onde as mensagens foram mandadas.
Como quase todos os endereços de IP se relacionam a uma empresa, a um governo, a uma agência ou a um provedor de internet, é possível estabelecer de qual rede as mensagens partiram.
Acredita-se que, a partir disso, o FBI tenha feito uma lista levantando as possibilidades de quem estaria nos locais de origem no momento quando as mensagens foram enviadas.

Jill Kelley (esq) recebeu e-mails ameaçadores atribuídos a Paula Broadwell (dir)
O nome de Paula Broadwell apareceu com frequência nessa lista. Ela é uma ex-militar e pesquisadora acadêmica que conheceu Petraeus em 2006, para escrever um projeto acadêmico sobre seu estilo de liderança. Sua pesquisa acabou servindo de base à biografia do general.
Logo as investigações apontaram que as mensagens foram mandadas de hotéis onde ela se hospedou durante a turnê promocional dessa biografia.
Quando o FBI estabeleceu que Broadwell era a autora das mensagens ameaçadoras a Kelley - amiga de Petraeus e de sua mulher, Holly -, os investigadores obtiveram um mandado de busca que lhes deu acesso à conta anônima de e-mail. Assim foram descobertos indícios do caso entre ela e Petraeus e da forma como esse relacionamento foi mantido em sigilo.
O truque usado era o de duas pessoas terem acesso ao login e à senha de uma conta de e-mail. Assim, em vez de mandar mensagens um ao outro, eles escreviam rascunhos de e-mails que nunca chegavam a ser enviados.
O uso de uma conta compartilhada de Gmail provavelmente parecia seguro o bastante, já que os dois não imaginaram que seriam alvo de uma investigação do FBI.
No primeiro semestre de 2012, segundo relatos, Broadwell começou a ter ciúmes de Jill Kelley, que ela acreditava estava competindo pelas atenções do general. Os e-mails anônimos enviados a Kelley aparentemente faziam advertências para que esta se mantivesse longe do general.
No final de outubro, o FBI tomou o depoimento de Broadwell, que admitiu o romance com Petraeus. Este foi interrogado na semana seguinte. Em seguida, no dia das eleições presidenciais, o FBI notificou James Clapper, diretor de inteligência nacional dos EUA que reporta diretamente à Casa Branca.
Clapper então pediu que Petraeus renunciasse e informou a Casa Branca no dia seguinte. Petraeus entregou sua renúncia ao presidente Barack Obama na quarta-feira passada, e este aceitou-a na sexta-feira.
A questão não deve resultar em acusações formais. Adultério é considerado crime sob a lei militar, mas acredita-se que o romance de Petraeus tenha começado depois de ele ter deixado o comando do Exército.
Não há nenhum indício de que Kelley, que trabalha voluntariamente como relações públicas de uma base militar em Tampa, tenha tido qualquer tipo de relacionamento amoroso com Petraeus.
Em comunicado, ela e seu marido confirmaram sua amizade com a família do general e pediram para que sua privacidade fosse respeitada.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Obama faz chamado à união e diz a americanos que 'melhor está por vir'


Horas após ser eleito para um segundo mandato na Casa Branca, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse na madrugada desta quarta-feira aos americanos "que o melhor está por vir", e fez um chamado à união de democratas, republicanos e independentes - afirmando que conversaria com seu adversário, Mitt Romney, sobre como trabalhar juntos para "fazer o país avançar".
Obama garantiu os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral para vencer a eleição, apesar da insatisfação da maior parte da população com o estado da economia, e de uma campanha vigorosa que o pôs cabeça a cabeça com Romney até o último segundo.
Os democratas de Obama mantiveram sua maioria no Senado (que mantêm desde 2007) enquanto os republicanos mantiveram o controle da Câmara de Representantes. Segundo analistas, isso deverá causar o mesmo tipo de impasse que paralisou o legislativo em parte do primeiro mandato de Obama, com a Casa Branca e o Congresso em conflito sobre vários tópicos.
Em seu discurso de vitória, pronunciado diante de centenas de correligionários no QG democrata em Chicago, Obama agradeceu ao apoio dos partidários, da família e desafiou seus adversários, ao pedir que trabalhassem com ele.
"Nós nos levantamos, demos a volta por cima e sabemos nos nossos corações que para os EUA, o melhor ainda está por vir", disse Obama.
Ele afirmou que voltava à Casa Branca "mais determinado, e mais inspirado do que nunca a respeito do trabalho que há a fazer, e ao futuro que está à frente".
Ele prometeu trabalhar com líderes republicanos no Congresso para reduzir o déficit orçamentário do governo, reformar o sistema de impostos e de imigração.

"Somos uma família americana e caímos e nos erguemos juntos como nação", disse ele.
Com apenas os 29 votos no Colégio Eleitoral correspondentes à Flórida por decidir, Obama tinha 303 votos contra 206 de Romney. O voto popular, que é simbolica e politicamente importante mas não necessariamente decisivo na corrida, continuava bastante disputado.
De acordo com a Constituição americana, cada estado recebe um número de votos no Colégio Eleitoral, proporcional à sua população. O candidato que conquistar 270 votos se torna presidente.
Em Boston, onde sua campanha foi baseada, Romney parabenizou o presidente e disse que ele e Paul Ryan, seu candidato a vice, deram tudo o que podiam durante a campanha.
Referindo-se à economia cambaleante, Romney disse que agora não era hora para "picuinhas partidárias e demonstrações de força políticas", e afirmou que republicanos e democratas devem por "o povo antes da política".
Romney parabenizou Obama e sua equipe: "Eu quis tanto ser capaz de responder a suas esperanças e dirigir o país em uma rota diferente, mas a nação escolheu outro líder, e então me junto a vocês para prestar homenagem sinceramente (a Obama) e a essa grande nação", disse ele.
Na terça-feira, o presidente garantiu um novo mandato ao conquistar estados solidamente democratas e alguns chamados estados-pêndulo como Colorado, Iowa, Pensilvânia, Michigan, Minnesota, Virgínia e Wisconsin. Sua vitória apertada em Ohio - um estado crítico do meio-oeste - selou a vitória.
Romney conquistou Carolina do Norte e Indiana, ambos conquistados por Obama em 2008, assim como estados consagradamente republicanos. Mas ele não foi capaz de vencer em Ohio ou outros estados que precisava para atingir a marca dos 270.
Também em jogo na terça-feira estavam 11 governos estaduais, um terço dos assentos do Senado e todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes.
A vitória de Obama ocorreu apesar de um nível alto de desemprego - 7,9% no dia da eleição - e de um crescimento econômico tépido.
Eleitores, entretanto, deram a ele crédito pelo resgate, em 2009, da indústria automobilística dos EUA, entre outras conquistas, e o recompensaram pela operação que matou Osama bin Laden no Paquistão, ano passado.