Quando se trata das forças do governo sírio, existe
uma relação muito complexa e pouco clara entre os militares, as milícias, as
agências de inteligência e os vários centros de poder que os controlam.
Esta é
uma das razões pelas quais é tão difícil determinar responsabilidades por
massacres como o que ocorreu na última sexta-feira, em Houla, e porque o
presidente da Síria, Bashar al-Assad, tem sido capaz de manter uma aparência de
respeitabilidade enquanto nega qualquer culpa pelas atrocidades recentes.
Militares
A Síria
tem um Exército poderoso, equipado com armamentos fornecidos principalmente
pela Rússia e o Irã.
Quando
uma área civil – como Baba Amr, em Homs – é atacada, é mais provável que seja
pelo Exército sírio, agindo sob as ordens de uma cadeia de comando militar.
Drones,
ou aviões comandados por controle remoto, fornecidos pelo Irã desde o início da
revolta contra o governo de Assad, há 15 meses, têm sido amplamente utilizados
para guiar unidades de artilharia sobre que alvos atacar.
Também há
relatos de que a Rússia tem enviado grandes carregamentos de armas à Síria – um
antigo aliado –, incluindo milhares de rifles usados por franco-atiradores
membros das forças do governo, posicionados no alto de prédios, para atingir
ativistas nas ruas.
Assim
como a maioria dos países, a Síria tem um Exército, uma Marinha e uma
Aeronáutica. Dois terços dos cerca de 200 mil integrantes do Exército
convencional são da minoria alauíta, como o presidente Assad.
Desde o
início dos protestos contra o regime de Assad, tanques e armamentos pesados se
tornaram uma visão constante em áreas de manifestações.
A
retirada desses armamentos pesados das ruas é um dos pontos do plano de paz
proposto pelo enviado especial da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan.
Mas como
isso ainda não aconteceu, os rebeldes estão tentando adquirir o mesmo tipo de
armamentos anti-tanque que causaram danos em tanques israelenses durante a
invasão do Líbano, em 2006.
Com a
ajuda da Rússia, a Síria tem uma ampla rede de defesa aérea, que poderia tornar
difícil a manutenção de uma zona de exclusão aérea, caso uma fosse implementada
no futuro.
Agências de inteligência
Síria tem uma rede de 17 agências de
inteligência que se dividem em quatro categorias amplas, todas com o objetivo
principal de manter o regime no poder.
A
inteligência militar, conhecida como al-Mukhabarat, está sob o controle do
presidente e se concentra em monitorar dissidentes.
A
inteligência da Aeronáutica é um dos ramos da segurança do Estado mais
profundamente estabelecidos e com maior penetração. Foi responsável pela
tentativa mal-sucedida de colocar uma bomba a bordo de uma aeronave israelense
que partia do aeroporto britânico de Heathrow em 1986.
O
Diretório Geral de Segurança é ligado ao Ministério do Interior, enquanto o
Diretório de Segurança Política é talvez o mais enérgico de todos na
perseguição de opositores do regime dentro do país.
Calcula-se
que pelo menos 150 mil pessoas trabalhem na inteligência síria, e os
informantes estão por toda parte, relatando – por uma módica recompensa – comentários
considerados críticos ao presidente ou a seu regime.
Tais
comentários, se inventados, podem levar a meses de tortura em centros de
detenção, às vezes acabando em morte.
Os
centros de detenção estão espalhados pelo país, e alguns dos abusos cometidos
neles são bem documentados por organizações de defesa dos direitos humanos
Milícias
Conhecidas
como shabiha, que significa "os fantasmas", elas são sem dúvida
responsáveis por algumas das maiores atrocidades já cometidas.
São
basicamente criminosos de rua, geralmente com ficha policial, e alguns com
conexões com máfias de contrabando.
Sem
status oficial ou uniformes – além de sua preferência por jaquetas de couro
pretas – eles são matadores de aluguel, que abundam em determinadas regiões
para onde são enviados, especialmente às sextas-feiras, que se tornaram o dia
tradicional de protestos no mundo árabe.
A shabiha
opera em um nível bem local, o que torna difícil rastrear seus crimes até
encontrar alguma conexão com altos funcionários do governo em Damasco.
Muitos,
mas não todos, são alauítas, como o presidente. Mas sua lealdade parece ser
oferecida a quem quer que pague, e não a etnias ou religiões específicas.
No caso
do massacre de Houla, é bem possível que, após os bombardeios, tenham sido
enviados por alguém em nível local, para "terminar o serviço",
cortando as gargantas de sobreviventes ou atirando à queima-roupa.
Fontes
locais dizem que eles também podem ter sido cotratados para levar adiante atos
de vingança contra sunitas da aldeia, depois que os rebeldes do Exército Sírio
Livre atacaram aldeias alauítas na vizinhança.
A shabiha
não aparece em nenhuma estrutura de comando oficial, mas analistas afirmam que
eles são "uma ferramenta útil para o governo" para levar a cabo atos
de repressão.
O governo
sírio continua a negar que seja responsável por repressão ou tortura.
Fonte: BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário