Uma declaração dada pelo premiê britânico,
David Cameron, em junho deste ano sobre um possível referendo a ser realizado
no seu país para discutir a relação com a União Europeia (UE) alimentou
especulações de que a Grã-Bretanha possa acabar deixando o bloco europeu.
Analistas das mais diferentes correntes
econômicas discordam sobre quão possível ou até mesmo desejável tal medida
seria. Alguns gostariam que a Grã-Bretanha permanecesse na União Europeia, mas,
para outros, uma eventual saída do bloco seria algo inevitável no futuro.
A edição atual da revista alemã de relações
internacionais Internationale Politik traz um artigo intitulado "A Questão
Britânica".
O autor, Hans Kundnani, argumenta que uma
integração mais próxima – que "provavelmente é necessária" para se
chegar a uma solução para a crise do euro – "poderia obrigar a
Grã-Bretanha a deixar a UE".
Na avaliação de Kundnani, os políticos alemães
e a imprensa do país estão divididos sobre a importância de impedir a saída da
Grã-Bretanha. A chanceler alemã, Angela Merkel, entretanto, parece estar
"pendendo para ambos os lados". Sua intuição prefere que o Reino
Unido continue no bloco, mas isso pode mudar se houver "pressão
insustentável" para que ela ache uma solução para a crise do euro.
O próprio Kundnani alerta que a saída da
Grã-Bretanha seria "fatal" para o bloco, e que Merkel teria que fazer
várias concessões para evitar esse cenário.
Outros compartilham desta visão. O historiador
Michael Stuermer escreveu no jornal alemão Die Welt que "é do interesse
alemão manter a Grã-Bretanha na UE a qualquer custo". Ele elogia os
"instintos de livre comércio" dos britânicos e diz que o sistema de defesa
europeia sem o Reino Unido seria "uma faca sem fio".
Para Hubert Wetzel, no jornal alemão
Sueddeutsche Zeitung, a permanência da Grã-Bretanha não é tão vital assim para
o bloco.
"É claro que a saída da Grã-Bretanha
representaria um desastre para a UE. No entanto, com todo respeito, a Europa
tem problemas maiores para se preocupar", diz ele.
Alguns analistas franceses já dão como certa a
saída da Grã-Bretanha do bloco.
O analista de assuntos europeus do jornal
francês Libération, Jean Quatremer, é categórico: "Em poucos anos, a
Grã-Bretanha deixará a UE".
Quatremer argumenta que diante do
aprofundamento das relações econômicas na zona do euro (em que a Grã-Bretanha
não faz parte), a tradicional estratégia britânica de negociar acordos para
isentar o país de algumas obrigações com o bloco logo se tornará
"simplesmente impossível".
Levando-se em consideração a histeria
crescente no debate britânico sobre a UE, "é difícil ver como os
britânicos evitarão um referendo sobre o tema", escreve o analista, que acrescenta
que os líderes conservadores do país são "eurofóbicos fanáticos".
Um editorial em francês no site EU-Logos
afirma que "o momento da verdade chegou" para o Reino Unido.
O lançamento recente de uma auditoria do
governo britânico em relação aos poderes da União Europeia sobre o país
provavelmente não vai impedir "a marcha da Grã-Bretanha de rejeição – de
uma forma ou de outra – à União Europeia, uma rejeição que está ganhando
terreno inexoravelmente".
O editorial parece defender uma saída britânica.
"A atitude do Reino Unido está questionando com muita força e muito
claramente a existência de todo esse arcabouço construído pacientemente. Suas
negações desanimaram seus últimos defensores", afirma o editorial.
Há quem diga que a saída da Grã-Bretanha pode
ser uma benesse ao bloco, abrindo caminho para soluções mais rápidas, sem a
constante objeção do governo baseado em Londres.
Charles Nonne, em um artigo escrito em francês
para o site bloggingportal.eu, lamenta a atual paralisia do processo de integração.
Ele culpa os britânicos por isso.
"Ao deixar as instituições da União
Europeia, a Grã-Bretanha ofereceria à UE uma oportunidade para lançar o real
processo de federalização", diz.
Para o analista alemão Andreas Sowa, do blog
blogactiv.eu, a saída da Grã-Bretanha é "um mal necessário para o
funcionamento institucional e conceitual da Europa".
Fonte: BBC
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