Apesar de
François Hollande ter iniciado sua campanha pela Presidência da França se
declarando um "inimigo do mundo das finanças", o candidato socialista
e primeiro colocado no primeiro turno das eleições francesas no domingo é
também um prisioneiro deste mundo.
O problema
particular da França é que tanto o governo como a economia dependem de forma
desproporcional da boa vontade de investidores e bancos estrangeiros.
De acordo
com dados do FMI, 59% da dívida do governo francês está no exterior - o que
significa que mais da metade dos empréstimos tomados pelo Estado francês não
são influenciados por nenhum tipo de sentimentalismo ou patriotismo.
Para
colocar em contexto, apenas 24,8% da dívida do governo da Grã-Bretanha estão na
mão de credores estrangeiros. O governo francês precisa tomar emprestado o
equivalente a 18,2% do seu PIB neste ano, e 19,5% no ano que vem, para
conseguir cobrir as dívidas que estão vencendo.
Ou seja,
se a França quiser manter o atual padrão de endividamento, o governo precisará
contar com a boa vontade de investidores no exterior, para que eles continuem
cobrindo dívidas que equivalem a 10% do PIB do país neste ano e em 2013.
Outra
desvantagem da economia francesa está no papel do Banco Central. O Bank of
England - o Banco Central Britânico - tem comprado muitos papéis da dívida do
governo britânico. Já o Banco Central Europeu é proibido de fazer isso.
GREVE DE
EMPRÉSTIMOS
Hollande
pode acreditar que o mercado financeiro internacional - como grandes bancos,
fundos de pensão e fundos de hedge - é inimigo da França. Mas se uma guerra for
mesmo declarada, os grandes bancos podem simplesmente fazer uma "greve de
empréstimos" e parar de fornecer recursos ao governo francês.
No melhor
dos cenários, isso aumentaria muito os juros cobrados do governo francês no
mercado internacional. No pior, a França teria que pedir ajuda financeira ao
FMI e aos fundos emergenciais da zona do euro.
Também
não existe nenhuma possibilidade de Hollande apelar ao espírito patriótico dos
bancos franceses. Eles já detém grande parte da dívida do governo, e muitos dos
banqueiros nacionais consideram o presidente Nicolas Sarkozy
"anticapitalista" e até mesmo esquerdista. A impressão deles de
François Hollande é pior ainda.
Isso pode
significar que haverá uma catástrofe financeira caso Hollande seja eleito no
segundo turno?
Não
necessariamente, e talvez muito pelo contrário. Hollande deve perceber que o
governo francês não tem condições de negligenciar os investidores
internacionais.
Muitos
investidores influentes acreditam que Hollande é um político intrigante, que
fala demais, mas não age necessariamente de acordo com suas convicções. Durante
uma visita recente ao Reino Unido, o candidato socialista tentou passar a
imagem de que não é tão perigoso para a City Londrina quanto as pessoas
imaginam.
Um
investidor com bastante experiência em ler o pensamento de políticos - o
veterano George Soros --disse à BBC que tem suas dúvidas sobre a política
econômica a ser adotada por um eventual governo Hollande.
Para ele,
a probabilidade de o socialista tentar alterar o pacto fiscal europeu - que
prevê medidas de austeridade em toda a zona do euro - é mínima.
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