A Coreia do Norte anunciou na quarta-feira que
vai convocar seu Parlamento este mês, uma sessão incomum que, segundo analistas
sul-coreanos, possivelmente marque a introdução oficial de um programa do líder
Kim Jong-un para revitalizar a economia moribunda do país.
Desde dezembro, quando assumiu a direção do
país após a morte de seu pai, Kim Jong-il, o jovem Kim vem enfatizando a
necessidade de melhorar os padrões de vida da população norte-coreana pobre. Em
abril, em seu primeiro discurso, declarou que ia assegurar que os
norte-coreanos "nunca mais fossem obrigados a apertar os cintos".
Desde julho, várias reportagens da mídia
sul-coreana vêm citando fontes anônimas na Coreia do Norte, segundo as quais
Kim Jong-un pretende dar incentivos a fábricas e fazendas coletivas para
aumentar sua produtividade. De acordo com os relatos, o Estado deixará os
agricultores ficarem com 30% do rendimento das fazendas, ao invés dos 10%
atuais. As fábricas poderão escolher o que produzir e como vender seus
produtos, dividindo quaisquer lucros com o Estado e pagando elas mesmas seus
operários.
As mudanças, que já teriam sido testadas como
projetos-piloto em fábricas e fazendas selecionadas, serão eventualmente
estendidas ao resto da Coreia do Norte, tomando o lugar do sistema disfuncional
de rações distribuídas pelo Estado.
Se forem confirmadas, as mudanças
representarão o esforço mais recente e possivelmente mais ousado da Coreia do
Norte de reformar sua economia. Um esforço semelhante, dez anos atrás,
fracassou.
"A sessão próxima do Parlamento vai
indicar para onde Kim Jong-un vai conduzir a economia de seu país", disse
o especialista na Coreia do Norte Koh Yu-hwan, da Universidade Dongguk, em
Seul.
O anúncio feito pela agência de notícias
oficial KCNA de que a Assembleia Suprema do Povo vai se reunir em 25 de
setembro não informou qual será a pauta da sessão. A última vez em que a
Assembleia se reuniu foi em abril, quando os legisladores elegeram Kim para
suceder a seu pai como presidente do Comitê Nacional de Defesa, o mais
importante órgão do Estado. Foi o último dos altos títulos militares, do
Partido e do Estado que ele herdou.
Além de aprovar leis e nomear altos
funcionários governamentais, o Legislativo norte-coreano anuncia medidas
importantes de política doméstica e estrangeira. Em 2003 ele anunciou que o
país ampliaria seu programa de armas nucleares.
Na sexta-feira passada o Ministério do
Exterior prometeu ampliar o arsenal nuclear do país "para além da
imaginação". A ameaça foi feita quando a Agência Internacional de Energia
Atômica avisou que a Coreia do Norte está avançando significativamente na
construção de um novo reator nuclear que é amplamente visto como meio de
enriquecer urânio e produzir plutônio próprio para armas atômicas.
Observadores da Coreia do Norte na Coreia do
Sul disseram que Kim, que as autoridades sul-coreanas acreditam ter 28 anos,
pode afastar alguns dos líderes norte-coreanos mais velhos, como o
primeiro-ministro Choe Yong-rim, 82, e o presidente da Assembleia, Kim
Yong-nam, 87, para imprimir sua marca própria na hierarquia e promover
tecnocratas mais jovens para levar adiante seus esforços de revitalização
econômica.
Os relatos na mídia sul-coreana sobre as
mudanças econômicas que Kim estaria pretendendo citaram representantes
partidários norte-coreanos que assistiram a briefings sobre o programa
econômico de Kim. Os relatos variaram nos detalhes, mas coincidiram quanto às
linhas gerais.
"Trata-se basicamente de aumentar os
incentivos para fábricas, indivíduos e fazendas coletivas, visando fomentar a
produtividade", disse o especialista na Coreia do Norte Yoo Ho-yeol, da
Universidade da Coreia.
Nas fazendas coletivas, grupos de quatro a
seis trabalhadores poderão trabalhar como unidades para incentivar a
concorrência, segundo a sucursal em Seul da rádio Free Asia, de Washington,
além de web sites de Seul que coletam informações junto a fontes na Coreia do
Norte. Enquanto isso, Jang Song Thaek, tio de Kim e seu assessor chave para
políticas governamentais, visitou a China no mês passado e obteve a promessa de
Pequim de ajudar a Coreia do Norte a construir duas zonas econômicas francas na
fronteira entre os dois países.
Na terça-feira um funcionário governamental
sênior de Seul, falando de modo anônimo com um grupo de repórteres, confirmou
um elemento dos planos relatados. Disse que a Coreia do Norte está tirando os
lucrativos direitos comerciais das mãos do poderoso establishment militar e os
devolvendo ao gabinete. Em abril Kim prometeu converter o gabinete no
"comando econômico" do país. Analistas dizem que o ex-chefe do
exército norte-coreano, vice-marechal Ri Yong-ho, que perdeu o cargo em julho,
foi demitido por ter resistido a um esforço de Kim e Jang de limitar os
direitos econômicos das forças armadas.
Analistas sul-coreanos continuam divididos
quanto a se Kim quer promover mudanças econômicas reais, do tipo empreendido
pela China, principal aliada de seu país, ou se busca aumentar a produtividade
apenas para reforçar o cofre do Estado, que está minguando. Nos últimos anos o
regime vem tendo dificuldade crescente em ganhar divisas, à medida que as
sanções da ONU vêm sendo intensificadas e a ajuda do exterior diminuiu.
Fonte: The NY Times
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