O premiê de
Israel, Binyamin Netanyahu, usou seu discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta
quinta-feira, para voltar a pressionar por uma "linha vermelha" de
limite ao programa nuclear iraniano e por mais sanções ao país persa.
Em uma fala vista como
"teatral", pouco convencional e que virou viral nas redes sociais,
Netahyahu chegou a apresentar à plateia o desenho de uma bomba no qual riscou
uma linha vermelha, indicando, segundo ele, o estágio do qual o Irã estaria se
aproximando.
O desenho visava mostrar que, em
algum ponto do ano que vem, o Irã supostamente terá urânio enriquecido
suficiente para fabricar uma bomba atômica e que a única forma de impedir isso
é impondo um limite ao programa iraniano.
"Acho que, diante de uma linha vermelha
clara, o Irã recuará. E isso dará mais tempo para sanções e para a diplomacia
convencer o país a desmontar seu programa de armas nucleares", afirmou o
premiê israelense. "Linhas vermelhas não levam à guerra, linhas vermelhas
evitam a guerra."
Oficialmente, o Irã nega que seu
programa nuclear busque a construção da bomba e afirma que este tem apenas fins
energéticos e medicinais. Mas Israel sente-se ameaçado pelo programa iraniano e
afirma que o país persa está perto da bomba. Nos últimos meses, especulou-se
que Israel estaria planejando atacar instalações nucleares iranianas.
Para alguns analistas, o fato de
Israel ter pressionado pela imposição de uma "linha vermelha" até o
ano que vem demonstra que o país estaria disposto a alvejar o Irã após essa
data; outros, porém, destacaram que Netanyahu frisou "sanções e
diplomacia" em sua fala.
"Para os que se alarmavam com a
perspectiva de um potencial ataque israelense contra o Irã, houve algum alento
na fala de Netanyahu", opinou o analista diplomático da BBC Jonathan
Marcus. "Ele parece acreditar que ainda há tempo para conter o Irã com
sanções e pela via diplomática."
O discurso de Netanyahu na ONU
ocorreu no mesmo dia em que o jornal israelense Haaretz divulgou
um relatório interno da Chancelaria de Israel pedindo por uma nova rodada de
sanções contra o Irã.
Segundo o relatório, as restrições
econômicas internacionais já em vigor têm tido um profundo efeito na economia
do país persa e podem até desestabilizar o governo do presidente Mahmoud
Ahmadinejad. No entanto, seriam insuficientes para persuadir Teerã a suspender
suas atividades nucleares.
Na avaliação do jornal The
New York Times, o relatório confirma que Israel admite haver tempo e chance
de conter as ambições nucleares do Irã por outros meios que não o militar.
Ao mesmo tempo, o correspondente da
BBC James Robbins explica que o objetivo do discurso de Netanyahu nesta quinta
era convencer o presidente Barack Obama de que os EUA devem estar preparados
para atacar as usinas nucleares iranianas até o prazo máximo estabelecido pelo
premiê israelense, ou mesmo antes disso. O argumento é de que seria muito
arriscado deixar essa decisão para quando o Irã estiver mais perto da bomba.
No entanto, o governo americano tem
rejeitado até o momento o estabelecimento de "linhas vermelhas". E,
se estabelecesse esse limite, possivelmente não seguiria o calendário de
Netanyahu.
O premiê israelense, ainda assim, fez
referências positivas a Obama em seu discurso, agradecendo o fato de o
presidente americano ter dito, na véspera, em seu próprio discurso perante a
ONU, que fará "tudo em seu poder" para impedir que o Irã obtenha a
bomba.
"Talvez seja a percepção de que
a antipatia entre os dois líderes (Netanyahu e Obama) estava tomando proporções
danosas", opina Jonathan Marcus. "E um indicativo de que, ainda que
prefira o candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, Netanyahu
está se preparando para uma possível reeleição de Obama."
Netanuahy pouco falou sobre o
conflito israelense-palestino em seu discurso - evidência de que o estacionado
diálogo bilateral de paz segue ofuscado pela questão iraniana e pelos demais
conflitos derivados da Primavera Árabe.
Antes de Netanyahu, porém, falou
perante a ONU o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Ele criticou
o que chamou de "política de privação e limpeza étnica" promovida por
Israel contra os palestinos. Disse falar "em nome de um povo raivoso"
e que anseia por mudanças.
Abbas defendeu a solução de dois
Estados, afirmando que que "dois povos devem coexistir, cada qual com seu
Estado, na Terra Santa".
Nenhum comentário:
Postar um comentário