Em seu discurso de abertura da 67ª Assembléia
Geral das Nações Unidas, em Nova York, nesta terça-feira, a presidente Dilma
Rousseff rebateu as críticas de que os países em desenvolvimento estejam
praticando protecionismo comercial. Dilma também criticou a possibilidade de uma
intervenção militar na Síria, país às voltas com uma sangrenta guerra civil há
18 meses.
"Não
podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos
países em desenvolvimento sejam consideradas [como] protecionismo", disse
a presidente.
A fala é uma referência a iniciativas, como a brasileira, de elevar recentemente as alíquotas de importação de uma centena de produtos.
A fala é uma referência a iniciativas, como a brasileira, de elevar recentemente as alíquotas de importação de uma centena de produtos.
Dilma chamou a
prática de "defesa comercial" e defendeu o seu emprego como uma
resposta das economias emergentes ao chamado "tsunami monetário", a
emissão de dinheiro pelos países ricos para combater a crise econômica.
"Os bancos centrais dos países desenvolvidos persistem em uma política
monetária expansionista que desequilibra as taxas de câmbio", disse.
"Com isso, os países emergentes perdem mercado devido à valorização
artificial de suas moedas, o que agrava ainda mais o quadro recessivo
global."
Além da
crítica às emissões maciças de dinheiro, a presidente também criticou as
medidas duras de austeridade fiscal (corte de salários e aumento de impostos)
que os países ricos, principalmente os europeus, têm executado para controlar
seus deficits públicos, agravados pela crise de 2008. "A opção por
políticas fiscais ortodoxas vem agravando as economias desenvolvidas, com
reflexos nas economias emergentes, inclusive o Brasil", afirmou.
"A
política monetária não pode ser a única resposta para resolver o crescente
desemprego, o aumento da pobreza e o desalento que afeta no mundo inteiro as
camadas mais vulneráveis", acrescentou. "A austeridade [fiscal],
quando exagerada e isolada do crescimento, derrota a si mesma."
Desde o início
da crise econômica mundial, o Brasil tem sido crítico a respeito do chamado
"tsunami monetário" criado pelos países ricos. Para combater a
recessão de suas respectivas economias, os países mais desenvolvidos emitiram
grande quantidade de moeda para estimular a concessão de crédito e o nível de atividade.
Um dos efeitos
colaterais desse "tsunami monetário" foi a valorização das moedas de
economias emergentes, como o Brasil, já que parte desses recursos foi desviada
para ativos financeiros desses países. O fortalecimento da moeda brasileira
torna as exportações mais caras, o que gera dificuldades para a balança
comercial do país.
No caso dos
países ricos, o efeito é inverso, o que levou o ministro Guido Mantega
(Fazenda) a divulgar um termo que ganhou repercussão mundial: "guerra
cambial".
A presidenta defendeu o "diálogo"
e a "cooperação" para enfrentar a crise humanitária da Síria,
mergulhada em uma guerra civil que já provocou a morte de pelo menos 20 mil
pessoas. "Não há solução militar para a crise síria. A diplomacia e o
diálogo não são apenas a melhor, mas, eu creio também, a única opção",
disse a presidente. "O Brasil condena nos mais fortes a violência que
continua a ceifar vida nesse país", afirmou Dilma, acrescentando que
"a maior responsabilidade" recai sobre Damasco (o governo sírio).
"Mas
sabemos também da responsabilidade das opções armadas, especialmente daquelas
que contam com apoio militar e logístico de fora", acrescentou, numa
provável referência aos grupos rebeldes, que têm recebido financiamento e armas
de países ocidentais. "Sírios, deponham as armas e juntem-se aos esforços
de mediação."
Fonte: Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário